Relatório do Fórum Internacional de Transporte (ITF), sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus no transporte marítimo de carga geral, indica redução de até 17,5% na comparação anual de volume de carga transportado dentre as principais regiões comerciais marítimas.
Apesar da queda na demanda por transporte e sobra de capacidade de frete, operadores logísticos mundiais (NVO) demonstram poder operacional de controle sobre preços de frete marítimo, na análise da série temporal dos principais índices.
Dados reforçam perspectiva de que mercado de transporte marítimo de carga encontra-se concentrado. Poder de barganha excessivo das NVOs pode prejudicar a cadeia produtiva mundial, aumentando estocagem. Ao mesmo tempo, isso arrisca o retorno sobre investidas públicas no setor.
Apesar das externalidades, empresas de transporte marítimo veem seu risco de insolvência aumentar. Não estivessem atuando em atividades logísticas correlatas e recebessem negativas fiscais, desbalanceamento de carga de retorno e encomendas a estaleiros reduziriam suas posições.
Navio de carga refrigerada que levaria provisões à base uruguaia teria encalhado próximo à Antártica, diz redação de imprensa chilena. Relato seria de que não existem sinais de danos no casco. Mas diante de eco-risco, situação inconclusiva preocupa.
PortandTerminal.com, April 24, 2020 SANTIAGO, CHILE – It’s every environmentalist’s worst nightmare – a shipping accident in the ecologically sensitive Arctic or Antarctic regions. There are reports t
De fato, conforme apresenta o monitor do Marine Traffic, último sinal do Serviço Automático de Informação (AIS) da embarcação (Estação Palmer 85) aponta que navio localiza-se em área da Baía de Maxwell. Região é de navegação polar.
Tela do Marine Traffic mostra última localização do navio de carga refrigerada La Manche, na Península Antártica, em 22/04 (Foto: Captura de tela / Marine Traffic)
Estação terrestre que capturou essa informação, porém, tem confiabilidade questionável, já que último índice de tempo de disponibilidade de sinal apontado é de somente 34,2%. Ainda, atualização dos dados enviados pelo navio está defasada em 2 dias.
Marine Traffic detalha informações da estação terrestre que capturou últimas informações do navio de carga refrigerada La Manche, na Península Antártica (Foto: Captura de tela própria / Marine Traffic)
Entretanto, outro sistema supervisório, o Vessel Finder, corrobora dado, ainda que última localização do navio, também adquirida por retransmissão terrestre, não revele identificação de antena-fonte. Ídem, sinal mais novo transmitido pela nave data como de 22/04.
Monitor do Vessel Finder mostra última localização recebida do navio cargueiro reefer La Manche, supostamente encalhado na Península Antártica (Foto: Captura de tela própria / Vessel Finder)
Já carta raster incorporada pelo monitor FlyToMap revela inofrmação de que embarcação provavelmente navegava em profundidade segura para seu calado (6,6-7,5m), com larga folga abaixo da quilha. Isso não tornaria seu risco de encalhe, praticamente, remoto?
Carta raster disponível na plataforma supervisória Fly to Map demonstra que cargueiro navegava em águas de profundidade segura (Foto: Captura de tela própria / Fly to Map)
Já o horário exato da ocorrência não fora divulgado. Mas o site Windy.com sugere meteoro e mareografia dentro do esperado, na região, e do limite operacional. Ventos dentre 8-9 nós de velocidade e swell, de 0-1 metro. Não dá para recuperar sobre momentos anteriores.
Plataforma Windy.com informa dados seguros de tempo e mar em local que cargueiro reefer La Manche navegava, na Península Antártica (Foto: Captura de tela própria / Windy.com)
O que temos de apurável, então? Se não parece haver situação ambiental complicada à navegação, o incidente relatado soa improvável de ter acontecido por força alheia, se ocorreu. Mas, daí, o que pode ter ocorrido? Teria sido falha de gestão náutica operacional? Erro humano? Qual?
Antes de mais nada, nenhuma informação situacional obtida para este breve estudo de caso deve ser considerada conclusiva, claro. Apesar de sistemas especialistas, nenhuma fonte de pesquisa é certificada e dado de equipamento nenhum foi averiguado, “in loco”.
Já quanto às causas, desenvolvimentos e consequências do incidente, principalmente, muito menos esta análise é aplicável. Inquéritos das autoridades competentes é que devem ser levados em consideração para qualquer julgamento. Tudo aqui é mesmo discutido em grau de especulação.
Entretanto, a região da Passagem de Drake é de operação marítima arriscada, sabe-se. Tanto suas estrutura de suporte e sensibilidade politico-ecológica, quanto seu caráter de navegação especial, aconselham por necessidade de maior esclarecimento público de fatos como esse.
Mas não é só isso. O cargueiro reefer LA MANCHE está registrado sob a bandeira de Vanuatu. Selo tem regra de segurança operacional e estatutária relaxada (BDC), em relação a outras administrações. Por que embarcações nessa classe admitem-se operar na área? Como e o que arriscam?
Diante dessas considerações e do aproximadamente apurado e sendo real o incidente, restam perguntas fundamentais a serem respondidas pela gestão marítima operacional, ainda:
Qual era a carga transportada pelo navio? e
Como estava o nível de seus tanques operacionais?
A Península Antártica abriga esforços mundiais de pesquisa aplicada e é ecologicamente sensível. Incidentes marítimos desse tipo devem ser apurados com rigor para mitigar-se riscos. Especulação NÃO é definitiva, mas essa operação náutica deve ser mais transparente e verificável.
Baltic Exchange moves into air cargo market | Ship Management International
The Baltic Exchange is moving into the air cargo market following a tie up with air cargo pricing publisher TAC Index Company of Hong Kong.
Em meio à incerteza que a pandemia do novo coronavírus gera ao sistema logístico internacional, a negociação de frete aéreo de carga declara movimentar-se para apurar a indexação de taxas de frete do serviço. Mas parece conseguir, sim, é concentrar o cálculo do frete mundial.
O sistema de transporte aéreo, estruturalmente, observa maior atividade operacional no transporte de passageiros e só 1% do volume da carga transportada, internacionalmente. Entretanto, concentra quase 35% do valor agregado do transporte internacional de carga. Ao contrário, já o sistema de transporte marítimo de carga concentra a menor parte do transporte internacional de passageiros, mas beneficia-se por transportar mais de 90% do volume da carga mundial.
Num momento em que há sobrelevada queda na atividade de transporte aéreo e marítimo de passageiros, pela contingência epidemiológica, é natural que a operação internacional de transporte de carga sobressaia-se.
A operação de navios de passageiros em todo mundo encontra-se praticamente paralisada, devido a pandemia do novo coronavírus. Autoridades sanitárias, marítimas e portuárias têm barrado o embarque e desembarque de passageiros desse tipo de embarcação.https://t.co/Oo36ulME5L
E isso ocorre, inclusive, no sistema de transporte aéreo internacional, aumentando o preço de frete praticado.
COVID 19: Air cargo suddenly attractive for US airlines | CAPA
As demand for air travel disappears in the wake of the COVID-19 pandemic, passenger airlines operating around the world are turning to cargo in order to produce fractional revenue. y
Entretanto, as chances são de que, mesmo este esforço industrial, não compensará queda na atividade geral do sistema logístico-produtivo internacional. Relatório de associação setorial aponta para queda operacional das atividades absolutas.
Air Cargo Demand Slumps in February as COVID-19 Takes Hold | IATA Pressroom
Demand, measured in cargo tonne kilometers, decreased by 1.4% compared to the same period in 2019
O resultado esperado é, mesmo, então, que a demanda da superestrutura de negociação de frete aéreo de carga complexifique-se, cada vez mais. Mitigar incertezas deve parecer-lhes fundamental para manter a posição operacional do sistema de transporte aéreo.
Nesse sentido, a união dentre os mercados negociadores de taxas de frete de carga aérea com os mercados indexadores de negócios de carga marítima alinha-se como solução fácil e estratégica aos operadores logísticos globais.
Fundamentos para o Transporte Marítimo de Cargas
O transporte constata-se objeto amplo e multi-disciplinar, visível tanto do âmbito da Logística Integrada, quanto do âmbito da Economia e do Marketing. A partir disso, este artigo aborda a função, os objetos, os conceitos, os processos, a evolução e os agentes fundamentais no transporte marítimo de cargas.
Mas quais seriam as consequências para o mercado alternativo de transporte internacional de carga? Será que isso não intensifica, ainda mais, a capitalização do sistema logístico internacional, que já é altamente concentrado?
Qual será o novo nível de entrada da indústria de transporte internacional de carga, diante da comunicação cada vez maior dos subsistemas internacionais de transporte e do próprio evento extraordinário?
Pelo menos um indício já parece possível de ser levantado:
A pandemia do novo coronavírus acelera a concentração da indexação do frete global de carga.
Mesmo diante da pandemia do novo coronavírus, as exportações para a China de grãos de soja brasileiros bateram recorde trimestral (Q1). Dentre motivos para o alcance do índice, aponta-se a safra excepcional e a vantagem proteica da produção nacional sobre os grãos rivais.
Bulker traffic at Santos up 22% Another strong year for Brazilian #soybean & #maize exports has resulted in increase in traffic at country’s largest port #Santos. #MarineTraffic data shows bulker departures in period 1 March-12 April 2020 up 22% compared to same period last year pic.twitter.com/luyccc4yRw
Em 2019, o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE já apontava para o aumento da safra de soja do Brasil e da área plantada. Entretanto, outras situações relacionadas ao comércio global devem ter catalisado a exportação extraordinária.
Safra de soja será recorde em 2020, diz IBGE
Previsão é de alta de 8,7% em relação a 2019, totalizando 123,3 milhões de toneladas, segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de janeiro
A desvalorização histórica do real diante do dólar, que chegou a bater a casa dos 5 BRL/USD, em março, é uma delas. A moeda brasileira mais fraca aumenta o poder de compra estrangeiro sobre o produto brasileiro, alavancando, por fim, as exportações da commoditie, em geral.
Além disso, ainda os efeitos da guerra comercial EUA X China, mesmo que arrefecida, também podem ter corroborado para o crescimento nas exportações. Privilegiar a compra da soja brasileira em relação ao grão estadunidense ainda é estratégico ao governo e ao produtor chinês. A compra do grão brasileiro diversifica o fornecimento e distribui os riscos da cadeia produtiva sino-asiática relacionada. De quebra, ainda, golpeia, geopoliticamente, o concorrente norte-americano, porque reduz seu “market share” e poder de barganha.
Já para a operação do transporte marítimo de carga a granel, o aumento no volume das exportações brasileiras do produto para a China representa um aumento do valor do próprio frete da carga.
Brazilian soya bean exports reach all-time Q1 high of 17.9m tonnes – maritimes.gr
Brazilian soya bean exports reached an all-time high for a first quarter, jumping to nearly 18 million tonnes in sharp contrast to the slow start of the year. While year on year soya bean exports fell 14% in the first two months, 11.6 million tonnes were exported in March, sending total exports for …
Isso, porque o crescimento da demanda por navios (classes panamaxes e superpanamaxes), num próprio momento de restrição de tráfego, provoca uma subida natural dos custos e preços de uso do transporte marítimo de carga.
Num ambiente de redução de capacidade de funcionamento do sistema econômico e, por consequência, do sistema logístico, o sistema de transporte marítimo de carga também reduz-se. Dessa forma, nenhum crescimento agrário consegue beneficiar-se economicamente do sistema de transporte.
Nesse caso, na verdade, o nível operacional e estrutural do sistema de transporte marítimo de carga a granel global constringe o nível operacional do sistema de produção agrário nacional, independentemente, de sua capacidade estrutural.
Survey: Brazilian consumer sentiment during the coronavirus crisis
Brazilians are worried about overall public health, and concerns are worsening as the COVID-19 crisis deepens.
A pesquisa parece indicar que os sinais de risco sócio-econômicos da pandemia do novo coronavírus foram corretamente apreendidos pela maior parte da população e se encaixa com os dados cibernéticos de comportamento de consumidor, do âmbito global.
Se, para o caso nacional, confirmar-se o mesmo comportamento de consumo global, é esperado que a demanda por serviços de logística de carga aumente em até dois dígitos percentuais, enquanto ocorre queda acentuada, na mesma ordem, na demanda de serviços de logística de passageiros.
Apesar disso, com o retorno parcial das atividades da cadeia produtiva chinesa, ao menos a demanda logística de “commodities”, deve ser compensada, no próximo mês. A China é o principal parceiro econômico brasileiro, tanto em volume, quanto em valor comercial agregado (OEC/UNTACD).
No entanto, mesmo o gigante sino-asiático terá sua perspectiva de crescimento econômico abalada, já que os maiores mercados de consumo global, os EUA e a Europa, sofrem o pico dos efeitos da pandemia, agora.
China’s trade recovery to be short-lived with demand set to fall amid virus
China’s mild trade recovery in March should be taken with a pinch of salt, with overseas demand for its products set to fall further in the coming months under pressure from the coronavirus outbreak.
– China’s exports only fell 6.6 per cent in March after having contracted 17.2 per cent in combined figures for January and February; – But with global demand set to drop amid antivirus measures in US and Europe, analysts have warned of a substantial fall in the coming months.
Assim, é de se esperar, realmente, que o sistema logístico nacional apreenda, no final das contas, queda sensível, em suas atividades, principalmente, no transporte de passageiros.
O sentimento pessimista do consumidor nacional está alinhado com as perspectivas comerciais globais Tweet
Relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC) reconhece que a prioridade dos países deve ser combater a pandemia do novo coronavírus, em vez da crise econômica. Aliás, o alerta é para a necessidade dos países trabalharem juntos contra a pandemia a fim de que a própria recuperação comercial global seja mais rápida.
Para a OMC, a crise econômica atual é diferente da de 2008-09, apesar de comparável. Lembra que, hoje, setores econômicos inteiros param, como os de turismo, transporte e serviços não-essenciais. Nesse sentido, duas hipóteses principais são projetadas para o comércio global.
No cenário da hipótese otimista, se os países adotarem as medidas de mitigação da pandemia mais eficazes, já no segundo semestre deste ano haverá o retorno da atividade econômico-comercial a patamares de crescimento. Na hipótese do cenário pessimista, porém, a OMC entende que as medidas de mitigação demorarão a serem tomadas, adiando, portanto, o próprio retorno do crescimento econômico-comercial dos países. Independentemente, em TODOS os cenários todas as regiões do planeta sofrerão quedas de dois dígitos no comércio de importação e de exportação de produtos e serviços, durante a pandemia.
Outro aspecto observado pelo relatório da OMC é a necessidade de gestão da crise das cadeias logísticas globais, já que indústrias inteiras pararam a produção. Entretanto, para o setor de serviços, é que a OMC assevera que a pandemia imporá perdas econômicas irreparáveis.
Por fim, o relatório da OMC indica que os dados já levantados são de que a pandemia afundou até 43,3 pontos as exportações de manufatura (MARCH JP MORGAN PMI INDEX), indicando, infelizmente, que já estamos perseguindo o pior dos cenários comerciais projetados.
Tudo isso, o relatório também lembra, ocorre num ambiente de negócio global já afetado pela guerra comercial China-EUA, advindo de antes dessa crise, que já havia deteriorado o potencial do comércio global.